Escrever é iluminar um cômodo onde “já havia silêncio e reverência.” Quem escreve nos convoca a celebrar “afeto e memória.” O andar do cronista “pisa chão e céu.” Assim como “seu olhar varre a alma da gente.” Portanto, Qual o nome de sua saudade e outras crônicas, de Victor Alan, desperta a sensação de que “eu não leio o livro, ele me lê.” A coletânea de estreia do autor nos conduz pelas lembranças de suas experiências e muitas vezes disso nos esquecemos ao tomá-las como nossas. De texto em texto, vamos “na companhia silenciosa de páginas alheias” com que nos identificamos, pois o “artista é um estranho íntimo.” Um livro pode dizer nada ou “ser a corda lançada ao abismo” de onde vem o pedido de socorro. Para saber, é preciso ouvir “o estalo da agulha no disco”, aguçar a sensibilidade nesse ritual de descoberta do outro e de nós mesmos. Ao fazê-lo, também testemunhamos uma bonita metamorfose: a do professor que escreve convertido no escritor que ensina sobre “peso e dádiva” de dois relevantes fazeres. No primeiro, Victor Alan ingressou “munido de giz, apagador, gramática e um sonho”. No segundo, ele nos convida a deitar na neve para mexer “os braços e as pernas, deixando no chão a clássica imagem de anjo.” Nela se revela mais do que um gesto infantil, o desejo de criar asas e materializar o divino a partir do humano. Quando nos questiona sobre a saudade, um bom mestre tem consciência de que iniciar com uma pergunta é melhor que entregar a resposta. E se vale da metáfora na explicação do sentimento intraduzível: “um livro que ficou com uma página dobrada. A gente sabe onde parou, mas não tem mais como continuar.” Por todos esses motivos, cabe a mim advertir que as crônicas aqui contidas deixarão saudades e vão permanecer no leitor. Afinal, “toda saudade carrega uma história, e cada história, é uma pessoa, um lugar, um instante que escolheu morar em silêncio dentro da gente.”
Fortaleza, 21 de julho de 2025
Marília Lovatel




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